A Papiloscopia
no Estado de São Paulo
e as Contribuições do Professor José Bombonatti
Nascimento, Marta Alvesª
A Papiloscopia no
Estado de São Paulo foi instituída por meio do Decreto nº 1.533-A, em 30 de
novembro de 1907. A partir de então, os criminosos e os cadáveres desconhecidos
seriam identificados através da Datiloscopia, que é um ramo da Papiloscopia, cuja
finalidade é estabelecer a identidade humana através da análise das impressões
digitais. Assim como, as pessoas idôneas poderiam requerer a carteira de
identidade junto a Secretaria da Justiça e Segurança Pública.
A difusão da
Datiloscopia se deu com o primeiro livro didático, intitulado “Dactiloscopia e
Policiologia”, escrito por Manuel Viotti, primeiro diretor do Serviço de
Identificação de São Paulo. Essa obra descrevia minuciosamente o sistema de
identificação Datiloscópico, a ponto de motivar o chefe de Polícia, da época, a
publicar uma portaria que determinava que a identificação seria realizada segundo
as instruções contidas naquele livro (Araújo, 1957).
Os cursos regulares
de Datiloscopia, juntamente com outros de interesse policial, começaram a
existir na Escola de Polícia de São Paulo a partir de 1935, bem como diversos
estudos práticos e teóricos foram desenvolvidos no Instituto Oscar Freire, da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, dentro da disciplina Medicina
Legal (Araújo, 1957). Hoje, seria uma difícil tarefa elencar todos os mestres e
doutores que contribuíram com esses estudos, pois certamente a relação ficaria
incompleta.
Posteriormente,
Oscar Baldijão, professor da Escola de Polícia de São Paulo, formado em
química, desenvolveu inúmeros estudos científicos, a saber: composição e fórmula
química de pós e líquidos reveladores de impressões latentes, composição e fórmula
química para remoção do verniz caseoso dos pés de neonatos e técnicas para
tomadas de impressões digitais (Kehdy, 1962).
Vicente Túlio
Romano representa os que não foram professores, mas que também contribuíram com
novos conhecimentos técnico-papiloscópicos. Ele criou um novo desmembramento do
Sistema Monodactilar, ou seja, nova codificação aplicada a um único datilograma
(impressão digital completa), que possibilita o arquivamento e pesquisa desse (Kehdy, 1962).
Por volta de 1950 o
professor Carlos Nagem Chafik Kehdy inicia sua valiosa atuação no magistério
policial de São Paulo, escrevendo também inúmeros livros sobre Papiloscopia, difundidos
em todo o Brasil.
Em 1972 dois novos professores
são designados para
lecionar Papiloscopia na Academia de Polícia de São Paulo: José Bombonatti para
o curso de Pesquisador Datiloscópico, e Fernando Baldijão para o curso de
Datiloscopista. O Pesquisador Datiloscópico equivale atualmente ao Papiloscopista
Policial, e o Datiloscopista ao atual Auxiliar de Papiloscopista Policial.
Em 1975 mais três professores foram designados para a mesma
casa de ensino; Renato Lazzari Filho, William Ribeiro da Silva e Antonio Marcos
Spinola.
Essa breve narrativa
da história da Papiloscopia em São Paulo tem o objetivo de contextualizar as
contribuições e fatos relativos ao professor José Bombonatti descritos a seguir.
José Bombonatti
Nasceu em 15 de
novembro de 1928, na cidade Capivari, estado de São Paulo, filho único de João
Baptista Bombonatti e Maria Rodrigues Bombonatti, passando a residir, a partir
de 1950, na cidade de São Paulo.
Em fevereiro de
1962 concluiu o curso de Datiloscopista na Escola de Polícia de São Paulo, situada na Rua São Joaquim, Bairro da
Liberdade, sendo o professor Carlos Kehdy titular da disciplina de Datiloscopia.
Em setembro de 1963 foi admitido como Datiloscopista
para o Serviço Social de Menores da Secretaria de Justiça, como encarregado do
setor de identificação do Educandário Sampaio Viana, onde organizou o arquivo datiloscópico
para mais de quinhentos menores de zero a sete anos.
Em 1965 concluiu
o Curso de Pesquisador Datiloscópico na escola de Policia de São Paulo, onde
atuavam com destaque, além de Carlos Kehdy na disciplina de Papiloscopia, Astolfo
Tavares em Criminalística.
No ano seguinte é
designado para o cargo de pesquisador datiloscópico na Secretaria da Segurança
Pública. Exerceu suas atividades profissionais na Polícia
Técnico-Científica como plantonista, atendendo as solicitações de pericias
papiloscópicas nos locais de roubo, furto e homicídios junto aos Peritos
Criminais. Foi também encarregado do setor de perícias do arquivo Monodactilar.
Em 1972 foi designado
professor na Academia de Polícia juntamente com Fernando Baldijão. Lecionou a
disciplina de Datiloscopia nos cursos de formação técnico-profissional de Pesquisador
Datiloscópico, Datiloscopista e outros.
Em 1973 escreveu
o livro Aprenda Dactiloscopia, em que
explicita os tipos fundamentais do Sistema Datiloscópico de Vucetich, e formula
exercícios de confrontos (comparações) entre impressões e fragmentos de
impressões digitais. Os objetivos eram facilitar o processo ensino-aprendizagem
da Datiloscopia e difundir o Manual de
Classificação e Subclassificação de Impressões Dactiloscópicas de 1969.
De 1974 a 1980
participou na Academia de Polícia Civil de São Paulo da seleção de vigilantes
bancários, quando colaborou na aplicação dos exames escritos, defesa pessoal, armamento
e tiro.
A partir de 1974 participou de várias comissões de concursos para
ingresso nas carreiras de Pesquisador Datiloscópico, Datiloscopista e outros,
além de ministrar aulas aos demais integrantes de carreiras policiais, sargentos do Exército, da Policia
Militar, e da Guarda Civil Municipal de São Paulo.
No ano seguinte tornou-se
encarregado da Seção Técnica de Arquivo Monodactilar e em 25 de fevereiro de 1978
ocorreu a mudança dessa mesma Seção Técnica da Polícia Técnico-Científica, da Rua
Quirino de Andrade, para o Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt –
IIRGD, na Avenida Casper Líbero, onde continuou
como encarregado.
Em 1979 escreveu
o Manual de Classificação do Arquivo Monodactilar.
Em 1980 colaborou
com a montagem do sistema e criação do banco de dados do Automated Fingerprint Identification System – AFIS, da Divisão de
Informática do Departamento Estadual de Polícia Científica - DEPC.
Em 1981 concluiu
o curso de Direito na Fundação Instituto de Ensino de Osasco – FIEO;
Em 1983 tornou-se
chefe da Seção Técnica de Arquivo Monodactilar da Divisão de Informática do
DEPC.
Em 1987 estagiou
na Seção de Documentoscopia da Polícia Técnico-Científica.
Nesse mesmo ano, iniciaram-se
os concursos para seleção de policiais que trabalhariam nas delegacias regionais
e seccionais do Estado de São Paulo, e ele atuou junto ao corpo docente que era
responsável pela idoneidade do concurso.
Em 1988 criou no
IIRGD o laboratório Necropapiloscópico na Seção Técnica de Arquivo Monodactilar,
onde desenvolveu estudos para hidratação de luvas cadavéricas.
Em 1989 foi
sócio-fundador e secretário geral por cinco gestões da Associação dos
Professores da Academia da Polícia Civil de São Paulo. Nesse mesmo ano começou a lecionar a disciplina de Papiloscopia no
curso para cadetes da Aeronáutica de Piraçununga/SP.
Em 1990,
organizou o Museu de Identificação do IIRGD no prédio Alfredo Issa e, no ano
seguinte encerrou as atividades
profissionais no Instituto de Identificação, colaborando a partir de então em
várias exposições sobre Papiloscopia, tais como: Mart Center (espaço para
exposições do Shopping da Vila Guilherme), na Polícia Militar na Rua 13 de maio,
e no Palácio dos Bandeirantes.
Em 1992, participou
de outras exposições sobre Papiloscopia na cidade de Serra Negra e na Assembleia
Legislativa de São Paulo, e também colaborou com o acervo papiloscópico do
Museu do Crime na Academia da Polícia Civil, inaugurado nesse mesmo ano.
Em 1995 forneceu
materiais papiloscópicos aos alunos para feiras de Ciências em diversas escolas
de São Paulo.
Em 1998 encerrou suas
atividades na Academia da Polícia Civil.
Além das contribuições
mencionadas, idealizou e acompanhou a construção de um cenário (uma
residência), a fim de possibilitar atividades práticas dos alunos da Academia, e
também trabalhou na criação do laboratório papiloscópico, ambos com ênfase em
local de crime.
Colaborou
ainda, nos seguintes eventos relacionados à identificação: “88 anos de
Identificação do Instituto Ricardo Gumbleton Daunt” e “100 anos da
Identificação no Estado de São Paulo”, oportunidade em que redigiu parte da
história da identificação e de crimes que foram elucidados através da perícia
papiloscópica de São Paulo.
Foram
trinta e cinco anos de serviços técnico-periciais papiloscópicos prestados à sociedade
paulista que compõem um legado inestimável às próximas gerações de
Papiloscopitas Policiais e aos seus pares do magistério policial.
IMPRESSÕES PAPILARES DE SÍMIOS
Em 1996 o professor José Bombonatti realizou tomadas de
impressões papilares de Símios Rhesus, no Instituto Butantã de São Paulo.
Os símios estavam
sedados, pois iriam ser submetidos a teste de sanidade junto à equipe técnica
de funcionários do Instituto.
O objetivo dessa
atividade era registrar a similaridade das impressões papilares (impressões das
extremidades dos dedos, palma das mãos e planta dos pés) entre os humanos e símios,
não havendo intenção de relacionar tal similaridade com os postulados da teoria
da evolução de Darwin.
Impressões Plantares
Impressões Palmares
Impressões Digitais
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Álvaro Placeres. Manual de Dactiloscopia. São Paulo:
S.G., 1957. Coletânea Acácio Nogueira.
KEHDY, Carlos. Papiloscopia: impressões digitais, impressões palmares, impressões plantares.
São Paulo: Serviço Gráfico da Segurança Pública, 1962.
Entrevistas com o Professor José
Bombonatti. Junho/2013, realizadas pela Papiloscopista Policial Marta Alves do
Nascimento.
Revisão: Fabio Campoi Martins Rosa.
Autora
[a] Papiloscopista Policial,
Professora da Academia de Policia Civil de São Paulo e Escola de Administração
Penitenciária de São Paulo.