segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Contribuições do Professor Bombonatti


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 A Papiloscopia no Estado de São Paulo
e as Contribuições do Professor José Bombonatti
 
Nascimento, Marta Alvesª
 
 
A Papiloscopia no Estado de São Paulo foi instituída por meio do Decreto nº 1.533-A, em 30 de novembro de 1907. A partir de então, os criminosos e os cadáveres desconhecidos seriam identificados através da Datiloscopia, que é um ramo da Papiloscopia, cuja finalidade é estabelecer a identidade humana através da análise das impressões digitais. Assim como, as pessoas idôneas poderiam requerer a carteira de identidade junto a Secretaria da Justiça e Segurança Pública.
A difusão da Datiloscopia se deu com o primeiro livro didático, intitulado “Dactiloscopia e Policiologia”, escrito por Manuel Viotti, primeiro diretor do Serviço de Identificação de São Paulo. Essa obra descrevia minuciosamente o sistema de identificação Datiloscópico, a ponto de motivar o chefe de Polícia, da época, a publicar uma portaria que determinava que a identificação seria realizada segundo as instruções contidas naquele livro (Araújo, 1957).
Os cursos regulares de Datiloscopia, juntamente com outros de interesse policial, começaram a existir na Escola de Polícia de São Paulo a partir de 1935, bem como diversos estudos práticos e teóricos foram desenvolvidos no Instituto Oscar Freire, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, dentro da disciplina Medicina Legal (Araújo, 1957). Hoje, seria uma difícil tarefa elencar todos os mestres e doutores que contribuíram com esses estudos, pois certamente a relação ficaria incompleta.
Posteriormente, Oscar Baldijão, professor da Escola de Polícia de São Paulo, formado em química, desenvolveu inúmeros estudos científicos, a saber: composição e fórmula química de pós e líquidos reveladores de impressões latentes, composição e fórmula química para remoção do verniz caseoso dos pés de neonatos e técnicas para tomadas de impressões digitais (Kehdy, 1962).
Vicente Túlio Romano representa os que não foram professores, mas que também contribuíram com novos conhecimentos técnico-papiloscópicos. Ele criou um novo desmembramento do Sistema Monodactilar, ou seja, nova codificação aplicada a um único datilograma (impressão digital completa), que possibilita o arquivamento e pesquisa desse  (Kehdy, 1962).
Por volta de 1950 o professor Carlos Nagem Chafik Kehdy inicia sua valiosa atuação no magistério policial de São Paulo, escrevendo também inúmeros livros sobre Papiloscopia, difundidos em todo o Brasil.
Em 1972 dois novos professores são designados para lecionar Papiloscopia na Academia de Polícia de São Paulo: José Bombonatti para o curso de Pesquisador Datiloscópico, e Fernando Baldijão para o curso de Datiloscopista. O Pesquisador Datiloscópico equivale atualmente ao Papiloscopista Policial, e o Datiloscopista ao atual Auxiliar de Papiloscopista Policial.
        Em 1975 mais três professores foram designados para a mesma casa de ensino; Renato Lazzari Filho, William Ribeiro da Silva e Antonio Marcos Spinola.
Essa breve narrativa da história da Papiloscopia em São Paulo tem o objetivo de contextualizar as contribuições e fatos relativos ao professor José Bombonatti descritos a seguir.
 
José Bombonatti
Nasceu em 15 de novembro de 1928, na cidade Capivari, estado de São Paulo, filho único de João Baptista Bombonatti e Maria Rodrigues Bombonatti, passando a residir, a partir de 1950, na cidade de São Paulo.
Em fevereiro de 1962 concluiu o curso de Datiloscopista na Escola de Polícia de São Paulo, situada na Rua São Joaquim, Bairro da Liberdade, sendo o professor Carlos Kehdy titular da disciplina de Datiloscopia.
Em setembro de 1963 foi admitido como Datiloscopista para o Serviço Social de Menores da Secretaria de Justiça, como encarregado do setor de identificação do Educandário Sampaio Viana, onde organizou o arquivo datiloscópico para mais de quinhentos menores de zero a sete anos.
Em 1965 concluiu o Curso de Pesquisador Datiloscópico na escola de Policia de São Paulo, onde atuavam com destaque, além de Carlos Kehdy na disciplina de Papiloscopia, Astolfo Tavares em Criminalística.
No ano seguinte é designado para o cargo de pesquisador datiloscópico na Secretaria da Segurança Pública. Exerceu suas atividades profissionais na Polícia Técnico-Científica como plantonista, atendendo as solicitações de pericias papiloscópicas nos locais de roubo, furto e homicídios junto aos Peritos Criminais. Foi também encarregado do setor de perícias do arquivo Monodactilar.
Em 1972 foi designado professor na Academia de Polícia juntamente com Fernando Baldijão. Lecionou a disciplina de Datiloscopia nos cursos de formação técnico-profissional de Pesquisador Datiloscópico, Datiloscopista e outros.
Em 1973 escreveu o livro Aprenda Dactiloscopia, em que explicita os tipos fundamentais do Sistema Datiloscópico de Vucetich, e formula exercícios de confrontos (comparações) entre impressões e fragmentos de impressões digitais. Os objetivos eram facilitar o processo ensino-aprendizagem da Datiloscopia e difundir o Manual de Classificação e Subclassificação de Impressões Dactiloscópicas de 1969.
De 1974 a 1980 participou na Academia de Polícia Civil de São Paulo da seleção de vigilantes bancários, quando colaborou na aplicação dos exames escritos, defesa pessoal, armamento e tiro.
A partir de 1974 participou de várias comissões de concursos para ingresso nas carreiras de Pesquisador Datiloscópico, Datiloscopista e outros, além de ministrar aulas aos demais integrantes de carreiras policiais, sargentos do Exército, da Policia Militar, e da Guarda Civil Municipal de São Paulo.
No ano seguinte tornou-se encarregado da Seção Técnica de Arquivo Monodactilar e em 25 de fevereiro de 1978 ocorreu a mudança dessa mesma Seção Técnica da Polícia Técnico-Científica, da Rua Quirino de Andrade, para o Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt – IIRGD,  na Avenida Casper Líbero, onde continuou como encarregado.
Em 1979 escreveu o Manual de Classificação do Arquivo Monodactilar.
Em 1980 colaborou com a montagem do sistema e criação do banco de dados do Automated Fingerprint Identification System – AFIS, da Divisão de Informática do Departamento Estadual de Polícia Científica - DEPC.
Em 1981 concluiu o curso de Direito na Fundação Instituto de Ensino de Osasco – FIEO;
Em 1983 tornou-se chefe da Seção Técnica de Arquivo Monodactilar da Divisão de Informática do DEPC.
Em 1987 estagiou na Seção de Documentoscopia da Polícia Técnico-Científica.
Nesse mesmo ano, iniciaram-se os concursos para seleção de policiais que trabalhariam nas delegacias regionais e seccionais do Estado de São Paulo, e ele atuou junto ao corpo docente que era responsável pela idoneidade do concurso.
Em 1988 criou no IIRGD o laboratório Necropapiloscópico na Seção Técnica de Arquivo Monodactilar, onde desenvolveu estudos para hidratação de luvas cadavéricas.
Em 1989 foi sócio-fundador e secretário geral por cinco gestões da Associação dos Professores da Academia da Polícia Civil de São Paulo. Nesse mesmo ano começou a lecionar a disciplina de Papiloscopia no curso para cadetes da Aeronáutica de Piraçununga/SP.
Em 1990, organizou o Museu de Identificação do IIRGD no prédio Alfredo Issa e, no ano seguinte encerrou as atividades profissionais no Instituto de Identificação, colaborando a partir de então em várias exposições sobre Papiloscopia, tais como: Mart Center (espaço para exposições do Shopping da Vila Guilherme), na Polícia Militar na Rua 13 de maio, e no Palácio dos Bandeirantes.
Em 1992, participou de outras exposições sobre Papiloscopia na cidade de Serra Negra e na Assembleia Legislativa de São Paulo, e também colaborou com o acervo papiloscópico do Museu do Crime na Academia da Polícia Civil, inaugurado nesse mesmo ano.
Em 1995 forneceu materiais papiloscópicos aos alunos para feiras de Ciências em diversas escolas de São Paulo.
Em 1998 encerrou suas atividades na Academia da Polícia Civil.
Além das contribuições mencionadas, idealizou e acompanhou a construção de um cenário (uma residência), a fim de possibilitar atividades práticas dos alunos da Academia, e também trabalhou na criação do laboratório papiloscópico, ambos com ênfase em local de crime.
        Colaborou ainda, nos seguintes eventos relacionados à identificação: “88 anos de Identificação do Instituto Ricardo Gumbleton Daunt” e “100 anos da Identificação no Estado de São Paulo”, oportunidade em que redigiu parte da história da identificação e de crimes que foram elucidados através da perícia papiloscópica de São Paulo.
        Foram trinta e cinco anos de serviços técnico-periciais papiloscópicos prestados à sociedade paulista que compõem um legado inestimável às próximas gerações de Papiloscopitas Policiais e aos seus pares do magistério policial.

 
IMPRESSÕES PAPILARES DE SÍMIOS
Em 1996 o professor José Bombonatti realizou tomadas de impressões papilares de Símios Rhesus, no Instituto Butantã de São Paulo.
Os símios estavam sedados, pois iriam ser submetidos a teste de sanidade junto à equipe técnica de funcionários do Instituto.
O objetivo dessa atividade era registrar a similaridade das impressões papilares (impressões das extremidades dos dedos, palma das mãos e planta dos pés) entre os humanos e símios, não havendo intenção de relacionar tal similaridade com os postulados da teoria da evolução de Darwin.

                                  
Impressões Plantares
 



                                               
Impressões Palmares
 
 
                                                                                                 
Impressões Digitais
 
 
 
 
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Álvaro Placeres. Manual de Dactiloscopia. São Paulo: S.G., 1957. Coletânea Acácio Nogueira.
KEHDY, Carlos. Papiloscopia: impressões digitais, impressões palmares, impressões plantares. São Paulo: Serviço Gráfico da Segurança Pública, 1962.
Entrevistas com o Professor José Bombonatti. Junho/2013, realizadas pela Papiloscopista Policial Marta Alves do Nascimento.
Revisão: Fabio Campoi Martins Rosa.
 
Autora
[a] Papiloscopista Policial, Professora da Academia de Policia Civil de São Paulo e Escola de Administração Penitenciária de São Paulo.